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Sono de Sonho by Verina Fernandes

O julgamento silencioso de uma mãe

crianca chorarSe há lição que tenho aprendido como Mãe e como consultora de sono é a de não julgar uma outra Mãe nas suas opções, ideologias e atitudes. No entanto, nem sempre é tarefa fácil.
Ontem, depois do almoço, estava numa fila para a caixa de uma loja de pronto-a-vestir, atrás de uma senhora com uma bebé que aparentava ter cerca de 2 anos e meio.

Já a tinha ouvido choramingar enquanto circulava pela loja. Normalíssimo.
Mas, já na fila, a bebé erguia os braços para a mãe, a pedir colo, num choro cansado e a senhora ignorava o gesto, com alguns tiques de impaciência para chegar à sua vez de pagar. A determinada altura, moída pelo cansaço, a senhora empurra a filha pela testa, forçando-a bruscamente a recostar-se no carrinho, enquanto lhe ordenava que parasse com o choro. Se esperava terminar com a choraminguice, a coisa resultou no oposto, claro.
Naquela hora não consegui raciocinar calmamente, nem ter aquela conversa comigo mesma, em que procuro ser empática com a outra Mãe e descobrir um outro lado daquele comportamento (não para desculpá-la mas sim percebê-la, para depois conseguir ajudá-la da melhor forma):

– “Esta Mãe não está bem. Deve estar frustrada porque não consegue comprar a roupa de que precisava de forma calma e descontraída. A bebé está rabugenta e choraminga, exigindo atenção constante.”
– “Àquela hora, deveria estar a dormir a sesta, por isso, a Mãe não pode esperar outro comportamento dela. Não está a respeitar a necessidade de descanso da bebé. Porque é que não vai fazer compras a outra hora?”
– “Provavelmente porque não pode! Nem sempre é fácil conjugar a vida quotidiana com os horários de um bebé.”

Aquele gesto brusco, em que a Mãe empurrou a filha para se recostar no carrinho, mexeu mesmo comigo. Quis ser eu a empurrar aquela mulher, afastá-la da bebé e dar-lhe uma boa reprimenda. Quis pegar naquela criança e embalá-la docemente pelo sono adentro.
Mas não fui capaz de me mexer, de dizer uma palavra. As lágrimas vieram-me aos olhos (depois de passarmos por um parto ficamos assim, emotivas que até chateia). Ela viu e percebi que o seu mundo lhe caiu na hora.
Não devia ser permitido a uma Mãe chegar a este ponto. A violência começa assim. Se uma Mãe acumula cansaço, ansiedade e frustração, não está nas melhores condições para cuidar dos seus filhos. Uma mulher deve cuidar bem de si, sempre em primeiro lugar. Deve respeitar-se. Só assim estará a 100% para cuidar dos seus filhos.
Nós, Mães, tendemos para o altruismo no expoente máximo; colocamo-nos muitas vezes “atrás do último” da família (seja por instinto de protecção, seja por convenção social). Nada podia estar mais profundamente errado.
Continuo sem saber se devia ter falado com aquela Mãe, se a devia ter censurado pelo gesto (correndo o risco de levar com a mala dela na cara), se lhe devia explicar a causa mais provável para aquele choro do bebé (sabendo que me ia achar metediça ou “mais uma a mandar palpites”). Nenhuma das opções me agradam, nem mesmo o silêncio. Foi por isso que quis vir aqui contar.


Fonte da imagem: http://autism.lovetoknow.com/image/120077~AutismTantrum.gif